Grupos de TI avaliam abertura de capital a partir de 2014




A Quality Software, companhia de terceirização de projetos de infraestrutura de tecnologia da informação (TI), está a poucos passos de fazer sua oferta pública inicial de ações. A companhia já fez o pedido de registro de companhia aberta na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e listagem de ações no Bovespa Mais, o mercado de acesso da bolsa paulista. "No momento, a empresa está respondendo a ofícios da CVM, que é a etapa final para a aprovação do pedido de listagem", diz Julio Britto Junior, executivo-chefe da Quality.

O passo seguinte será definir o banco que administrará a oferta. "O mercado não está tão positivo, mas a empresa está preparada para abrir o capital no momento mais adequado nos próximos 36 meses", diz Britto.

A Quality Software não está sozinha nessa jornada. Outras companhias de TI, como BRQ IT Services, Altus, BSI Tecnologia e Cast Informática, preparam-se para captar recursos no mercado de capitais nos próximos anos, seguindo o caminho da Totvs, Positivo Informática, Senior Solution e Linx, todas com ações em bolsa.

"No mundo, os processos de abertura de capital de empresas de TI se aceleraram no segundo trimestre, mas no Brasil esse movimento vai ficar mais significativo a partir de 2014 ou 2015", afirma Sergio Alexandre Simões, sócio líder em consultoria de TI da PricewaterhouseCoopers (PwC).

Alguns fatores contribuem para esse cenário mais distante, como a presença de poucas empresas de TI na bolsa brasileira, o que dificulta a avaliação do desempenho no setor por investidores e analistas. O crescimento da economia abaixo do esperado neste ano também fez empresas de tecnologia adiarem os planos de abrir o capital.

"Neste ano a economia está mais fraca e 2014 não parece um ano muito bom", diz Benjamin Quadros, executivo-chefe da BRQ, empresa de serviços de tecnologia da informação. O executivo considera que a realização da Copa do Mundo no país pode contribuir para uma redução da produtividade e o processo eleitoral pode gerar incertezas para investidores. "Provavelmente 2015 e 2016 serão anos melhores, já com um novo governo", diz Quadros.

A BRQ fechou 2012 com um crescimento de 26% na receita, para R$ 400,6 milhões, e projeta para este ano um crescimento superior a 20%, acompanhando a tendência do setor. Mas, embora as empresas de TI cresçam mais que a economia, há poucos indicadores para quem compra a ação, o que dificulta a avaliação dos investidores, diz Quadros. "Quem compra ação da Totvs, da Linx, compra o risco Brasil, não compra uma empresa de TI", afirma. A BRQ previa fazer a listagem no Bovespa Mais neste ano, mas decidiu adiar os planos para 2014 e abrir o capital posteriormente, em até três anos.

Simões, da PwC, diz que não há pressa para as empresas brasileiras de TI abrirem o capital. O mercado ainda oferece oportunidades para captação de recursos por meio de fusões ou aportes, diz o analista. "A expectativa é que os bancos exerçam uma influência importante no avanço dos processos de abertura de capital nos próximos anos, principalmente o BNDES."

A BNDESPar, empresa de investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foi um articulador importante nas ofertas iniciais da Totvs, Bematech, Linx e Senior Solution. Atualmente, tem participação em 30 empresas de TI, incluindo BRQ e Quality Software. "Abrir o capital não é a única porta de saída para o BNDESPar quando investe em uma empresa, mas é a porta mais adequada, porque assegura o crescimento da companhia e a sua perpetuidade", afirma Luiz Souto, superintendente da área de capital empreendedor da BNDESPar.

Souto disse considerar o Bovespa Mais uma opção favorável às empresas de TI, tendo em vista que, em média, essas empresas têm porte menor que as de outros setores. O superintendente diz também que há no país investidores interessados em investimentos de longo prazo e que têm menos preocupação com a liquidez das ações.

Bernardo Gomes, diretor-presidente da Senior Solution, fez a listagem no Bovespa Mais neste ano. "As condições do mercado estavam favoráveis e foi uma oferta para investidores locais, o que de certa forma burlou o cenário internacional difícil", afirma Gomes. O executivo diz que a exigência de menos capital e o baixo nível de endividamento tornam as companhias de TI mais atraentes aos olhos dos investidores de longo prazo. "O setor de TI também cresce mais que a economia, o que pode dar ao investidor um retorno mais significativo", diz Gomes.

Dennis Herszkowicz, vice-presidente de finanças, administração e relações com investidores da Linx, diz que a entrada de mais empresas de TI na bolsa nos próximos anos será favorável para o setor: "Quanto mais empresas abrirem o capital, melhor, mas é bom que estejam preparadas. O mercado está bem seletivo; só histórias boas passam no crivo dos investidores."

No exterior, 16 movimentos foram feitos no 2º trimestre

As companhias de tecnologia da informação apresentaram mais interesse pelo mercado de capitais no segundo trimestre deste ano. Um levantamento realizado pela PricewaterhouseCoopers (PwC) mostrou que, no segundo trimestre do ano, 16 companhias de TI no mundo fizeram oferta pública inicial em bolsas de valores, totalizando US$ 2,82 bilhões. No primeiro trimestre, o número foi menor, de dez aberturas de capital, no total de US$ 1,72 bilhão.

Na comparação com o segundo trimestre do ano passado, houve queda de 20% no total de operações. O volume também foi menor: um ano antes, os IPOs de empresas de tecnologia somaram US$ 17,78 bilhões, dos quais US$ 16 bilhões se referem à oferta de ações do Facebook. Excluindo essa operação, o valor captado apresentou um avanço de 59% na base anual.

Dois fatores chamaram a atenção no relatório. Um deles foi a abertura de capital de mais empresas especializadas em periféricos e em armazenagem de dados, e distribuidoras. Em anos anteriores, as empresas de software e internet foram as que mais se arriscaram a abrir o capital na bolsa. No segundo trimestre deste ano, dos 16 acordos realizados três foram de distribuidoras de TI (Evertec, CDW Corporation e Gogo).

"As distribuidoras vivem uma fase de expansão e abertura de capital que nunca se viu antes. E mais empresas com o mesmo perfil farão a abertura de capital nos próximos anos", afirmou Sergio Alexandre Simões, sócio líder em consultoria de tecnologia da informação da PwC.

Outro fator apontado pelo consultor foi a ausência de ofertas iniciais na China - país que apresentou um grande número de operações entre 2010 e 2012. Das 16 operações verificadas pela PwC no segundo trimestre, 12 foram realizadas nos Estados Unidos. Em outubro do ano passado, os órgãos reguladores da China suspenderam autorizações para novos IPOs, para reprimir tentativas de abertura de capital por aspirantes fracos.

O fechamento temporário provocou esse resultado. Em contrapartida, as empresas de TI na China apresentaram mais casos de fusões e aquisições, com participação de fundos de investimentos, de acordo com a PwC. "Na China, as empresas estão tentando primeiro fortalecer a estrutura e melhorar aspectos de governança para futuramente entrarem na bolsa", disse Simões.

Para o consultor, a tendência para o futuro é de crescimento das operações de abertura de capital. "O mais importante é que a curva de IPOs em tecnologia é crescente e as operações estão mais diversificadas, deixando de ficar restritas a empresas de internet e software", afirmou o consultor.

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