Franceses bateram recorde de compras de empresas brasileiras em 2016



A gigante francesa Total conclui diversas participações em campos no pré-sal brasileiro. ©REUTERS/Stephen Hird


As crises econômicas e política no Brasil frearam o número de fusões e aquisições envolvendo empresas brasileiras e estrangeiras em 2016. No entanto, um país se destacou e mostrou interesse crescente em investir no
território brasileiro: a França, que passou da quinta para a segunda posição em relação a volume de negócios no Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos.


Os dados foram revelados pela empresa de consultoria e auditoria PwC no estudo anual intitulado “Brasil, Tendências de Fusões § Aquisições”. Segundo o documento, foram realizadas em 2016 um total de 597 operações de fusão e aquisição de empresas no Brasil contra 742 em 2015.

“Essa queda foi provocada pelo cenário político e econômico. Em 2016, teve o impeachment da presidente (Dilma Rousseff), a operação Lava Jato, e o PIB encolheu cerca de 3,5%. As empresas brasileiras estavam com menos ‘boa saúde’, menos confiança no futuro e menos possibilidades de adquirirem outras empresas brasileiras”, explicou Manoel De Goeij, responsável pelas transações do Grupo Brazilian Business da PwC.

No entanto, o valor total envolvendo as transações no período atingiu US$ 37,6 bilhões, ou seja, um valor em alta de US$2,8 bilhões em relação ao ano anterior. A diferença, segundo a PwC, diz respeito a alguns meganegócios, como a aquisição da Nova Transportadora do Sudeste pela Brookfield Infrastructure Consortium (US$5,6 bilhões).

Na contramão do cenário, investidores franceses aumentaram a quantidade de negócios visando empresas brasileiras, com um recorde de 29 operações de fusão ou aquisição em 2016, bem acima do total de transações de 2015 (17) e as maiores desde o início dos anos 2000.

Com esse aumento, que representa um total de 11% das transações, os franceses passaram de quinto investidor em 2015 para segundo no ano passado, atrás apenas dos Estados Unidos (93) e à frente do Reino Unido (17), Canadá (17) e China (12).


O consultor Manoel De Goeij listou três motivos principais pelo “apetite” dos franceses por empresas verde-amarelas. “Primeiramente, as empresas francesas que fizeram aquisições têm uma estratégia de longo prazo. O Brasil ainda está passando por um período difícil, mas ainda há muitas oportunidades a médio e longo prazo. O Brasil é uma das maiores economias do mundo, tem mais de 200 milhões de consumidores e estruturas democráticas e jurídicas muito interessantes quando comparadas com outros países emergentes”, afirma.

De acordo com o especialista, o segundo fator favorável para os negócios no Brasil foi a situação de muitas gigantes de vários setores. “Em 2016, havia muitas empresas brasileiras à venda e com dificuldades. Petrobras e Odebrecht tiveram que vender partes da empresa para pagar dívidas”, exemplificou.

A cotação da moeda brasileira foi o terceiro motivo apontado pelo consultor como atraente para os investidores franceses “No ano passado, o real esteve muito baixo. Um euro valia quase quatro reais. Isso significou que para os franceses, comprar empresas brasileiras era muito barato”.

Diversos setores atraíram investimentos da França como o de agrobusiness, petróleo e de infraestruturas. Uma das aquisições mais notáveis foi a compra pelo grupo francês Tereos de 45,97% da participação da Petrobras na Guarani e a aquisição pela gigante Total de diversas participações em campos no pré-sal por €2,2 bilhões. “Outro setor bastante forte atualmente é o de seguros. A CNP Seguros comprou a brasileira Pan Seguros, aproveitando o momento favorável do setor”, destacou.

No entanto, Manoel De Goeij salientou que o setor de varejo enfrenta dificuldades no Brasil, citando a decisão das empresas francesas FNAC e Casino de se retirarem do país para se dedicarem a outros mercados. “O varejo está passando por um momento muito difícil. FNAC e Casino estimaram que não dava mais, perderam demais no Brasil e preferem concentrar suas atividades em outros países”, afirmou.

Segundo o especialistas, para o setor de varejo voltar a ser interessante para investidores externos será preciso observar o desempenho da economia brasileira e seus efeitos nos consumo interno. “Vai depender do crescimento das despesas dos consumidores brasileiros. Atualmente, eles estão sem dinheiro. Vai depender do crescimento do mercado de trabalho e do poder aquisitivo. As oportunidades (para o setor de varejo) podem voltar a aparecer em 2018”, estima.

Apesar de uma situação econômica ainda morosa no país, a perspectiva de fusões e aquisições de empresas brasileiras para este ano é positiva, segundo o consultor da PwC. “Acreditamos que o número de operações vai aumentar na medida em que a insegurança política e econômica vai diminuindo. O governo está colocando as bases e promovendo reformas para uma recuperação econômica progressiva”, defendeu.

A projeção de um crescimento de 0,5% do PIB e a adoção de várias reformas, como a da Previdência, trariam um cenário mais favorável para investimentos externos no Brasil. “O número de aquisições no Brasil por empresas francesas deve aumentar em 2017, mas não dá para saber quanto, mas o fluxo deverá ser bastante alto”, concluiu

Por Elcio Ramalho

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